Sucesso de estímulos na China é chave para a reação na exportação de carne
Recuperação econômica da China está mais lenta que o esperado, o que enfraquece as compras de carne bovina do país. A recuperação dos preços e do volume das exportações brasileiras de carne bovina ao mercado chinês nos próximos meses vai depender do sucesso de medidas que vêm sendo adotadas pelo país asiático para acelerar a economia, como o plano de estímulos lançado nesta semana para impulsionar o consumo local.
No setor de grãos, por outro lado, a desaceleração econômica da China não se traduziu em compras menores, nem em preços mais fracos. Pelo contrário, a demanda deve seguir firme, para produção de ração na indústria local, segundo analistas. Dados oficiais divulgados na segunda-feira mostraram que a economia da China cresceu apenas 0,8% no segundo trimestre em relação aos primeiros três meses do ano.
O número ficou bem abaixo dos 2,2% registrados no primeiro trimestre, colocando em risco a meta de atingir a alta de 5% no Produto Interno Bruto (PIB) deste ano, estabelecida pelo governo de Pequim. “A recuperação econômica da China está acontecendo, mas não como se esperava.
Então, não dá para imaginar que vamos ter altas expressivas nos preços que eles pagarão pela carne bovina nos próximos meses”, disse Fernando Iglesias, analista da consultoria Safras & Mercado. O especialista lembrou que a China, além de ser destino de quase 50% dos volumes da carne bovina embarcada pelo Brasil, é a maior formadora de preço desse mercado. “Se a China paga menos pelo produto importado, outros compradores relevantes como União Europeia, Estados Unidos e demais países vão na mesma linha”, afirmou.
Foi nesse contexto que os preços médios da carne bovina exportada pelo Brasil caíram 20% no primeiro semestre, para US$ 4.585 por tonelada, comparados com os US$ 5.740 dos primeiros seis meses de 2022, segundo dados da Associação Brasileira de Frigoríficos (Abrafrigo). Além de um crescimento econômico mais fraco, o analista da Safras destacou que algumas medidas macroeconômicas que estão sendo adotadas pela China vão na contramão do mundo, como a queda nas taxas de juros. “Isso é bom para os exportadores chineses, mas acelera a saída de capital do país. Há, então, um processo de desvalorização da moeda, o yuan, que também complica o cenário dos importadores”, afirmou.
Na tentativa de melhorar a situação, a China também lançou um plano para impulsionar os gastos dos consumidores em quase tudo, de móveis à eletrodomésticos. Apesar de não ser diretamente ligado à melhora na demanda por alimentos, Paulo Mustefaga, Presidente da Abrafrigo, acredita que a medida pode favorecer também a demanda por carne bovina. Independentemente do intuito do estímulo, se ele trouxer um maior crescimento econômico, isso tende a elevar o consumo e puxar os preços (da carne)”, disse.
Em uma visão mais cética, o analista da Safras avalia que, mesmo em um ambiente de estímulos do governo, uma recuperação maior para os preços deve vir somente no último trimestre, quando os chineses fazem maiores comprar para se abastecer para o feriado do Ano Novo Lunar. Iglesias disse ainda que essa pressão não foi sentida nas exportações de frango e de carne suína porque o preço médio dessas proteínas já é quase 50% inferior ao da carne bovina, produto tradicionalmente mais consumido pelas classes altas na China. Em contrapartida, dados do governo federal mostram que a queda de US$ 1,06 bilhão nas exportações de carne bovina in natura do Brasil para a China no semestre foi compensada por vendas adicionais de US$ 2,8 bilhões em soja em grãos para o país.
VALOR ECONÔMICO