Minerva pode virar maior fornecedora de carne da China
Empresa pode elevar suas compras se o Cade aprovar a compra de frigoríficos da Marfrig. A Minerva pode se tornar a maior fornecedora de carne bovina à China no mundo, caso o Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) aprove a compra de frigoríficos da Marfrig. Fontes e analistas dão como certa a consolidação da companhia nesse mercado, mas ponderam se é o melhor momento para isso. “A empresa vai se tornar tão grande quanto a JBS quando a gente fala em América Latina, mas, olhando só para China, pode assumir a liderança por conta das operações de Argentina e Uruguai que está abraçando da Marfrig”, afirma fonte de um frigorífico concorrente.
Nas conversas entre fontes do setor, corre a informação de que funcionários dos frigoríficos adquiridos pela Minerva começaram a procurar outras empresas com medo de perder o emprego em meio às mudanças. “A percepção no chão de fábrica é que [a venda] já deu tudo certo”, diz a fonte. Procurada, a Minerva optou por não se posicionar até a decisão do Cade. Uma questão levantada no mercado é se a Minerva, ao se tornar a principal parceira da China, teria força para negociar preços melhores pela tonelada de carne exportada. Parte do setor vê as novas inspeções do país asiático em frigoríficos brasileiros como uma sinalização de que a China terá opções na manga para contrabalancear. “Na fila [das inspeções] estão plantas enormes da JBS, como as de Campo Grande, Diamantino e Redenção.
Então, o que a gente fala hoje sobre China pode mudar amanhã”, observa outra fonte da indústria. Segundo Leonardo Alencar, analista da XP Investimentos, não existem dados públicos sobre todos os exportadores de carne bovina do mundo, mas, considerando os volumes que a companhia já exporta na América do Sul, há grandes chances de que a previsão esteja correta. No entanto, o analista da XP pondera que a queda dos valores pagos pela tonelada exportada ao mercado chinês já era esperada. “Sempre ficou a dúvida do porquê o mercado que levava o maior volume pagava tanto prêmio. Parecia um contrassenso”, diz.
Para ele, a aprovação do Cade será decisiva para a nova Minerva. Se sair no começo do segundo trimestre do ano, a companhia conseguirá direcionar as fábricas para capturar oportunidades no Brasil, geradas pela ampla oferta, que deve começar a diminuir a partir de 2025. Uma vantagem competitiva da Minerva é “saber operar bem no mercado de commodity e em sazonalidades”, afirma Alencar. Segundo ele, a empresa já trabalha no mercado internacional para ter uma demanda maior que sua oferta — por isso, compra carne de outros players para exportar. “Então, pelo menos parte desse produto já terá um destino lá fora”. Mas Alencar avalia que o valor pago pelos ativos da Marfrig — R$ 7,5 bilhões — foi muito alto em relação ao ganho que terá com elas, mesmo capturando todas essas oportunidades. “A conta que fizeram não faz sentido para a gente”, avalia. A recomendação da XP para as ações da Minerva é de compra; para as da Marfrig, mantém a avaliação neutra. Ontem, os papéis das Minerva fecharam na B3 a R$ 6,83, com queda de 3,12% enquanto os da Marfrig recuaram 2,96%, a R$ 9,19
Valor Econômico