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Sindicarne - Goiás

Mais fêmeas no gancho em 2024, mau sinal para os preços do boi

 

Abate ainda forte de fêmeas continuará segurando recuperação das cotações da arroba no ano que vem. Com 2023 chegando ao fim, a dúvida que fica para muitos é: 2024 ainda será um ano marcado pelo ciclo de baixa dos preços pecuários? Na visão dos analistas da Agrifatto, a resposta é “sim”, a fase de preços enfraquecidos tende a continuar assombrando os pecuaristas. Tal hipótese é ancorada pela expectativa de continuidade no processo de descarte de fêmeas ao longo do próximo ano, movimento que costuma inflar o quadro de oferta de animais terminados. 

A ideia de que os abates de vacas/novilhas ainda serão relevantes em 2024 é reforçada pelo comportamento histórico recente dos ciclos pecuários, relata a Agrifatto. Tomando como base os dois ciclos anteriores de baixa (2012-2014 e 2017-2019), registrou-se ao menos três anos consecutivos com a participação das fêmeas acima da média histórica em 15 anos. No período 2012-2014, o percentual de fêmeas sobre o total abatido ficou em 41,93% e, no intervalo entre 2017 e 2019, foi de 40,98%, relembra a Agrifatto.

 No atual ciclo, em 2023, pela primeira vez desde o início da atual fase de baixa (a partir de 2020), a participação de fêmeas ficará acima da média histórica dos últimos 15 anos (de 39,10%), podendo chegar a 41,34%, estima a consultoria. Ou seja, teoricamente, vem mais descarte de vacas por aí, já que nunca houve apenas um ano com participação de fêmeas acima da média histórica. A previsão da consultoria paulista é corroborada pela equipe de analistas do Rabobank. “Em 2024, o abate de fêmeas deve permanecer elevado, sobretudo na metade do ano, desafiando mais uma vez o equilíbrio entre oferta e demanda”, prevê a instituição, no relatório “Perspectivas para o Agronegócio 2024”, divulgado no início de dezembro/23. 

A analista Nicole Santos, da Scot Consultoria, de Bebedouro (SP), segue a mesma toada. “Atenção especial ao começo de 2024, período em que o consumo interno de carne bovina e as exportações brasileiras perdem força”, sugere ela, acrescentando: “Com o atual quadro de El Niño impactando as pastagens, quem deverá seguir ditando os preços do boi gordo será a oferta de boiadas”. “Nossas estimativas apontam para um total de 33,13 milhões de cabeças abatidas em 2024, ligeiramente (+0,16%) acima da quantidade registrada em 2023, com a participação das fêmeas chegando 41,14%”, projeta a Agrifatto.

 Outro fator pode estimular a tendência de baixa da arroba em 2024 é a continuidade do fenômeno El Niño problema climático responsável pela intensificação da seca em algumas regiões importantes da pecuária, impedindo, assim, a recuperação das pastagens. “Ainda que o horizonte de curto prazo (até meados dezembro/23) possa reservar leves altas para o boi gordo no mercado físico e, consequentemente, na B3, acreditamos que o patamar atual acima dos R$ 244/@ para quase todos os vencimentos do boi gordo seja interessante para iniciar as travas para esse período (1º semestre de 2024)”, sugere a Agrifatto. A dependência da China nas vendas externas da carne bovina brasileira se manteve bastante elevada ao longo de 2023. No entanto, um fato tem chamado a atenção do economista Yago Travagini, da Agrifatto. “Parece que as compras chinesas de carne bovina encontraram um ‘teto’, pois os embarques para lá enfrentam dificuldades de romper a casa de 130.000 t/mês”, afirma o analista. Além disso, continua o analista, ao longo de novembro/23, os preços do dianteiro desossado enviado ao mercado chinês ficaram em níveis baixos se comparados aos meses anteriores. Segundo o analista, a explicação para isso está no desempenho das proteínas animais no mercado doméstico chinês.

 A carne bovina recuou 13% no atacado chinês ao longo de 2023 (dados parciais até novembro) e chegou a atingir o menor patamar desde agosto de 2019, quando era cotada a US$ 9,93/kg em julho de 2023. No final de novembro, sendo negociada pelo valor médio de US$ 9,98/kg. “Ou seja, o consumo interno da proteína bovina na China não está avançando como nos anos anteriores e os preços no atacado do país não dão estímulos para os importadores pagarem mais pela carne importada”, ressalta Travagini.

 Segundo os analistas do Rabobank, o ambiente de dependência mútua entre exportadores brasileiros e importadores chineses de carne bovina deve se manter em 2024, com o Brasil liderando como maior fornecedor do país asiático, representando 42% de toda a proteína comprada pela China no mercado internacional. “A grande diferença em relação a 2023 é que, no próximo ano, veremos uma maior competitividade comércio mundial de carne bovina, em função da maior participação da Nova Zelândia e, sobretudo, da Austrália nas vendas, porque esses países deverão elevar fortemente a produção local”, aponta o relatório.

PORTAL DBO